13/05/2023 - Levantamento feito pela Jovem Pan nos primeiros 150 dias de governo mostra que número é superior ao registrado nas gestões Lula 1 e 2; quilometragem percorrida é o equivalente a duas voltas ao mundo
Olha o Lula indo, olha o Lula vindo”. As recentes viagens internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não passam despercebidas pelos internautas – e eleitores, que comentam nas redes sociais sobre os períodos do mandatário fora do Brasil. “Viagens de Lula já somam quase duas voltas ao mundo”, disse um seguidor no Twitter, identificado como Gerson Vieira. De fato, desde o início do governo, o presidente já deu quase duas voltas ao mundo. A soma é de mais de 80 mil quilômetros em viagens internacionais. Dados de um levantamento feito pelo site da Jovem Pan mostram que o número de compromissos internacionais do petista, nos primeiros cinco meses de governo, já representa um recorde entre os governos anteriores, incluindo o próprio Lula, se comparadas as gestões iniciadas em 2003 e 2010. Neste ano, Lula já visitou oito países, sendo eles: Argentina, Uruguai, Estados Unidos, China, Emirados Árabes Unidos, Portugal, Espanha e Reino Unido. Somadas, as viagens representam 20 dias fora do território brasileiro. E o número pode ser ainda maior, já que Lula viaja para o Japão ainda neste mês, entre os dias 19 e 21 de maio. Nos governos anteriores, durante os primeiros 150 dias de gestão, Jair Bolsonaro (PL) se ausentou por 17 dias; Michel Temer (MDB), por 15 dias; e Dilma Rousseff (PT), por 12 dias no primeiro mandato e 8 dias no segundo.
Desde a redemocratização do Brasil, essa é a primeira vez que um chefe do Executivo Federal pode passar mais de 20 dias fora do país antes de chegar aos primeiros 150 dias de gestão (veja relação abaixo). Considerando os governos anteriores, o ex-presidente José Sarney, empossado em 15 de março de 1985, viajou por três dias. Fernando Collor esteve fora do país por nove dias, enquanto seu sucessor, Itamar Franco, viajou por sete dias. Já Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 1995, viajou por 12 dias em cinco meses, e em 1999, início de seu segundo mandato, ficou fora do país em seis dias. Esse número de viagens começa a aumentar a partir de 2003, justamente quando inicia o governo Lula 1. Nos primeiros cinco meses daquele ano, o petista visitou sete países e ficou 13 dias fora. Em 2010, logo no início de seu segundo mandato, ele viajou para nove países e ficou 15 dias fora. No total, durante os oito anos em que esteve à frente da Presidência da República, Lula fez 243 viagens, totalizando 80 países. Isso mostra que, de fato, antes mesmo de iniciar o terceiro mandato, Luiz Inácio já era o presidente que mais viajou na história recente da política brasileira. A nível de comparação, a agenda diplomática de Dilma Rousseff (PT) abrangeu, ao todo, 83 viagens, enquanto a de Michel Temer (MDB), 26, e Jair Bolsonaro, 33.
Presidentes que mais viajaram nos primeiros 150 dias de gestão:
- Lula (2023): 20 dias
- Jair Bolsonaro: 17 dias
- Lula (2007): 15 dias
- Michel Temer: 15 dias
- Lula (2003): 13 dias
- Fernando Henrique Cardoso (1995): 12 dias
- Dilma Rousseff (2011): 12 dias
- Fernando Collor: 9 dias
- Dilma Rousseff (2015): 8 dias
- Itamar Franco: 7 dias
- Fernando Henrique Cardoso (1999): 6 dias
- José Sarney: 3 dias
Embora não seja novidade, as idas e vindas de Lula neste mandato chamam atenção de internautas e políticos. Enquanto alguns questionam os valores empenhados, como o gasto de R$ 1,3 milhão para viagem à coroação do Rei Charles III, no Reino Unido, outros apontam para a falta de zelo com a política local – e as promessas de campanha ainda não cumpridas. Na quinta-feira, 11, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, afirmou que, cinco meses depois, o “governo que não começou só olha para trás ou para fora”. “Sete viagens internacionais e nenhuma agenda prioritária no Congresso. Projetos para criar emprego no Brasil? Não tem. Corte de despesas? Muito menos. Apertem os cintos, o piloto sumiu”, escreveu o ex-ministro do governo Bolsonaro no Twitter. Entre os seguidores do presidente, os compromissos fora do território brasileiro também são motivos de questionamentos e cobranças. “Lula, quando você vai visitar o Brasil?”, perguntou, ironicamente, um perfil. “Encontros e mais encontros. Trabalhar que é bom o senhor não quer?”, questionou outra seguidora, sendo respondida por outros internautas. “O nome desses encontros por sinal é trabalho”, justificou uma apoiadora.
Outro fator que contribui para a defesa de que Luiz Inácio permaneça mais tempo no país é a articulação política. Às vésperas de votações importantes, o Palácio do Planalto ainda patina para consolidar maioria no Congresso Nacional, especialmente na Câmara, onde o governo Lula 3 sofreu duas derrotas consecutivas: adiamento da votação do PL das Fake News e aprovação do projeto de decreto legislativo (PDL) que derruba os decretos que alteraram as regras do Marco Legal do Saneamento Básico. Entre deputados, o entendimento é que a mesma atenção dada à política externa deve ser empenhada junto ao Parlamento. “Lula tem que articular, porque com ministério não está resolvendo. Ministério não conquista deputado. Lula tem que atrair os deputados, não os partidos, porque os parlamentares não estão se vendo representados [pelos ministros escolhidos]”, disse o deputado federal José Nelto (PP-GO), em entrevista ao site da Jovem Pan. Ainda que desagrade opositores e aliados, a expectativa é que Lula continue viajando, pelo menos por mais cinco vezes ainda em 2023. Neste mês de maio, o presidente deve passar dois dias no Japão para encontro do G7. Em julho, o petista visita a Argentina; em agosto, a África do Sul; e em setembro, para a Índia e para os Estados Unidos.
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